obs:

O título desse blog é infeliz, mas só reparei depois. "Anti-país dos petralhas" dá impressão que sou contra os "petralhas" (como Reinaldo Azevedo se refere ao PT). Não, eu quis dizer que sou contra o Reinaldo e seu livro "O país dos petralhas".
É tão infeliz quanto uma pessoa de direita ser contra Marx e botar "Anti-O capital" e as pessoas acharem que a pessoa é anti-capitalista...
Bem, temos de conviver com os nossos erros né?

sexta-feira, 29 de maio de 2015

RIP John Nash

John Nash e esposa morreram no último dia 23 de maio num acidente de carro.

A maioria das pessoas sabe de sua vida pelo filme "Uma mente Brilhante", mas poucas pessoas sabem que o filme contém só uma fração do livro que deu origem ao filme.

Não está no filme por exemplo que Nash teve outra esposa anterior à Alicia, a Eleanor. Curiosamente, ambos têm o primeiro nome "John". Pode se dizer que ambas as esposas tiveram uma boa dose de sofrimento no relacionamento com Nash. No caso de Eleanor o motivo foi o abandono de Nash, quando ela teve de procurar os pais dele para contar sobre o relacionamento que até então era mantido em segredo. Os pais pensaram em pressionar o filho a casar-se com Eleanor para oficializar a união, mas Nash não quis. Eleanor e o filho (o 1° John filho) sobreviveram de modo modesto, nos subúrbios, "uma infância de merda", como contou o 1° John filho. Quando crescido, trabalhou de servente enquanto estudava. Um dia, quando trabalhava no quintal de um professor de matemática, este o convidou para entrar e tomar um refrigerante, John filho perguntou se tinha ouvido falar de John Nash, e o matemático disse que só de vista e fama. "Ele é meu pai", quando o matemático ouviu isso, ele se espantou "Meu deus, você se parece muito com ele!"

O sofrimento de Alicia, a 2° esposa, começou quando Nash começou a apresentar sinais de esquizofremia. Se separaram e John ficou bastante tempo aos cuidados da mãe e da irmã. Após a separação Alicia também enfrentou problemas para se sustentar, mais ou menos como Eleanor. Também de formação em exatas, não conseguia trabalhar na área pois não era comum empresas contratarem mulheres para tal área. Houve períodos bastante tristes em que ela tinha de sair para entrevistas de emprego quase todos os dias. Curiosamente, ela moveu uma ação contra a Boing, pois uma recusa de emprego parecia ter sido motivada por discriminação sexual. Ela ganhou uma indenização o que a animou um pouco. As decisões de internar Nash em clínicas nunca foi fácil nem para esposa, para a mãe ou para a irmã. Após saber da doença de John, a mãe passou a beber mais. Um dia houve um princípio de incêndio na casa e bombeiros foram chamados. os vizinhos acusaram John e o dono da casa queria expulsar a família. Tal evento ficou marcado com amargura, a irmã teve de implorar para que deixassem continuar a morar lá. Pouco depois a mãe morreu, pela narrativa do livro, a mãe não deve ter morrido muito feliz. A irmã achou inviável conciliar sua família com os cuidados ao irmão e ele voltou a viver com Alicia, apesar de separados no papel.

O 2° John filho estava numa adolescência problemática: perda de amigos, reclusão no quarto, leitura obsessiva da Bíblia e participação numa seita fundamentalista. Depois seus piores temores se confirmaram: John filho foi diagnosticado com a mesma doença do pai, esquizofremia. Quando Alicia ficava muito abalado com os problemas de casa, recorria ao apoio de uma amiga, que a acompanhava em clínicas e hospitais, além de conversar por telefone e jantar junto.

John filho (o 2°) se revoltou durante uma apresentação de matemática, dizendo que aquilo era pouco rigoroso. Um professor universitário dessa matéria foi chamado para conversar com o aluno revoltado. "Qual o seu nome?", "John Nash", respondeu o jovem revoltado ao professor que olhou com espanto. "Você deve ter ouvido falar de meu pai, ele resolveu o problema da imersão". Esse professor ficou bem próximo da família, Alicia ligava para ele quando o filho ameaçava abandonar a escola dizendo "Por que eu tenho de fazer alguma coisa? Meu pai não tem de fazer nada. Minha mãe o sustenta. Por que ela não pode me sustentar?". Como viram que ele realmente tinha potencial, resolveram que o melhor era ele começar o doutorado em matemática embora não tivesse nem diploma de ensino médio, nem de graduação. Quando terminou o doutorado, foi convidado para ser professor. O futuro parecia promissor.

Infelizmente anos depois, a doença do John filho também se agravou e ele ficou improdutivo. Ele estava internado numa clínica quando os pais ligaram avisando que John Nash (o pai) tinha ganho o prêmio Nobel. O filho desligou pensando que era uma brincadeira. Anos após ter melhorado de suas crises, e olhando o filho, Nash admite que não foi um bom exemplo.

Após o prêmio, Nash se aproximou de seu 1° filho, e viajaram juntos para uma das apresentações dele. Houve intrigas por pequenas coisas (Nash não deixar que o filho comesse sobremesa) e coisas mais sérias (Nash insinuar que o 1° filho poderia ajudar a cuidar do 2° filho esquizofrêmico, e numa hora chegar a dizer que faria bem para o 2° John um irmão menos inteligente para cuidá-lo), apesar dos altos e baixos, o filho ficou orgulhoso do pai na apresentação, e o pai disse que tinha sido uma boa viagem.

Juventude e bissexualismo 

Outro aspecto que o filme não abordou foi a sexualidade de Nash, que na adolescência foi caçoado como "Nash-mo", por causa de alguns sinais homossexuais que apresentou. O começo do livro relata algumas dessas aproximações com homens. Inclusive, Nash foi demitido de uma firma que fazia parte da segurança militar americana por ter caído numa armadilha para atrair homossexuais. Naquela época da Guerra fria e do macarthismo, se pensava que funcionários homossexuais eram perigosos de se ter em quadros pois poderiam ser seduzidos (um pensamento bastante idiota...).

O curioso é que um dos homens que marcaram Nash a ponto de aparecer em seus delírios esquizofrêmicos foi Jack Bricker, mas ele aparecia como uma ameaça, um ser perigoso que sabia de segredos que poderia aniquilar John. Outras figuras que Nash temia em seus delírios eram o Napoleão, como figura que pode mudar a história da humanidade, Satanás, etc

Delírios

Certa vez quando estava internado numa clínica, John recebeu a visita de um amigo que perguntou como John pode ter se entregado a delírios, a coisas imaginárias e irreais, sendo ele um matemático que deveria se concentrar apenas em coisas racionais. John respondeu que o motivo era que para ele aqueles delírios eram tão reais quanto problemas matemáticos.

Na universidade de Princeton circularam lendas de que Nash teve colapso nervoso quando estava lidando com um problema matemático extremamente difícil (de fato ele estava lidando com numéros primos e a hipótese de Riemann). Não foram só isso, John, por ter vivido a época da Guerra Fria, era estimulado a pensar em conspirações, no final da juventude temeu ser convocado pelo exército (e tal medo prejudicou-o), sua demissão (na verdade uma perseguição) também o abalou, e fora que aos chegar aos 30 estava frustrado por não ter conseguido ter tanto sucesso quanto queria (ele almejava a medalha Fields, o maior prêmio da matemática).

Ao ler sobre seus delírios, é interessante como os delírios parecem misturados com problemas e questões a resolver. Há pessoas que para entender o outro conseguem se colocar no lugar do outro. A minha impressão é que Nash conseguia se colocar no lugar de um problema (algo que soa muito doido, eu sei), e assim conseguia ter insights geniais, mas também o fazia se perder em seus delírios (principalmente quando ficava confiante demais e parava de tomar comprimidos). Por exemplo, ele relata que certa vez se imaginou como um tabuleiro de go, e que quem estava jogando o jogo eram seus filhos, mas que no movimento das peças, e no rumo do jogo, estava sendo jogado um jogo de 2° ordem entre ele e os judeus (para explicar como seria isso, imagino que jogos de 2° ordem se referem por exemplo a casos como personagens de Lost disputando um jogo, como o jogo de 1° ordem, e o de 2° ordem, envolve Jacob e o Inimigo).

Os bastidores do prêmio Nobel

Há uma surpeendente história dos bastidores no prêmio Nobel do ano em que Nash foi agraciado, confiram no livro.

Após o prêmio, o livro e o filme

O livro termina dizendo que Nash e Alicia ficaram unidos, que casamento é o relacionamento mais misterioso entre seres humanos, e que eles eram um casal no final das contas. Anos após o livro e filme, chegaram a se casar novamente mesmo.

Nash visitou vários locais para falar do equilíbrio de Nash, sua contribuição à economia que lhe deu Nobel. Curiosamente, embora Nash tenha sido relatado no livro como uma pessoa com senso de superioridade, principalmente na juventude, os relatos por exemplo da sua visita à USP foram de encontrar uma pessoa extremamente simples. Achei interessante que ele foi visto resolvendo alguns problemas matemáticos e que isso teria sido orientação psiquiátrica para manter a mente ocupada. Há um relato legal sobre Nash (e sua visita à USP) e sua teoria dos jogos no Apêndice para mentes curisosas.

A última contribuição à economia provavelmente foi uma sugestão para uma dinheiro ideal, que achei bem interessante e contribui para meus estudos econômicos. 

Mas é interessante frisar que embora a maioria das pessoas só conheça Nash pela teoria dos jogos e prêmio Nobel, os próprios matemáticos dão mais valor às contribuições de Nash para matemática, como o problema da imersão.

Antes da premiação, havia a curiosa situação: economistas pensavam se Nash não era matemático demais para gahar um prêmio de economia, enquanto os matemáticos achavam que a controbuição à economia de Nash era das menores contribuições de Nash.


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