obs:

O título desse blog é infeliz, mas só reparei depois. "Anti-país dos petralhas" dá impressão que sou contra os "petralhas" (como Reinaldo Azevedo se refere ao PT). Não, eu quis dizer que sou contra o Reinaldo e seu livro "O país dos petralhas".
É tão infeliz quanto uma pessoa de direita ser contra Marx e botar "Anti-O capital" e as pessoas acharem que a pessoa é anti-capitalista...
Bem, temos de conviver com os nossos erros né?

sexta-feira, 29 de maio de 2015

RIP John Nash

John Nash e esposa morreram no último dia 23 de maio num acidente de carro.

A maioria das pessoas sabe de sua vida pelo filme "Uma mente Brilhante", mas poucas pessoas sabem que o filme contém só uma fração do livro que deu origem ao filme.

Não está no filme por exemplo que Nash teve outra esposa anterior à Alicia, a Eleanor. Curiosamente, ambos têm o primeiro nome "John". Pode se dizer que ambas as esposas tiveram uma boa dose de sofrimento no relacionamento com Nash. No caso de Eleanor o motivo foi o abandono de Nash, quando ela teve de procurar os pais dele para contar sobre o relacionamento que até então era mantido em segredo. Os pais pensaram em pressionar o filho a casar-se com Eleanor para oficializar a união, mas Nash não quis. Eleanor e o filho (o 1° John filho) sobreviveram de modo modesto, nos subúrbios, "uma infância de merda", como contou o 1° John filho. Quando crescido, trabalhou de servente enquanto estudava. Um dia, quando trabalhava no quintal de um professor de matemática, este o convidou para entrar e tomar um refrigerante, John filho perguntou se tinha ouvido falar de John Nash, e o matemático disse que só de vista e fama. "Ele é meu pai", quando o matemático ouviu isso, ele se espantou "Meu deus, você se parece muito com ele!"

O sofrimento de Alicia, a 2° esposa, começou quando Nash começou a apresentar sinais de esquizofremia. Se separaram e John ficou bastante tempo aos cuidados da mãe e da irmã. Após a separação Alicia também enfrentou problemas para se sustentar, mais ou menos como Eleanor. Também de formação em exatas, não conseguia trabalhar na área pois não era comum empresas contratarem mulheres para tal área. Houve períodos bastante tristes em que ela tinha de sair para entrevistas de emprego quase todos os dias. Curiosamente, ela moveu uma ação contra a Boing, pois uma recusa de emprego parecia ter sido motivada por discriminação sexual. Ela ganhou uma indenização o que a animou um pouco. As decisões de internar Nash em clínicas nunca foi fácil nem para esposa, para a mãe ou para a irmã. Após saber da doença de John, a mãe passou a beber mais. Um dia houve um princípio de incêndio na casa e bombeiros foram chamados. os vizinhos acusaram John e o dono da casa queria expulsar a família. Tal evento ficou marcado com amargura, a irmã teve de implorar para que deixassem continuar a morar lá. Pouco depois a mãe morreu, pela narrativa do livro, a mãe não deve ter morrido muito feliz. A irmã achou inviável conciliar sua família com os cuidados ao irmão e ele voltou a viver com Alicia, apesar de separados no papel.

O 2° John filho estava numa adolescência problemática: perda de amigos, reclusão no quarto, leitura obsessiva da Bíblia e participação numa seita fundamentalista. Depois seus piores temores se confirmaram: John filho foi diagnosticado com a mesma doença do pai, esquizofremia. Quando Alicia ficava muito abalado com os problemas de casa, recorria ao apoio de uma amiga, que a acompanhava em clínicas e hospitais, além de conversar por telefone e jantar junto.

John filho (o 2°) se revoltou durante uma apresentação de matemática, dizendo que aquilo era pouco rigoroso. Um professor universitário dessa matéria foi chamado para conversar com o aluno revoltado. "Qual o seu nome?", "John Nash", respondeu o jovem revoltado ao professor que olhou com espanto. "Você deve ter ouvido falar de meu pai, ele resolveu o problema da imersão". Esse professor ficou bem próximo da família, Alicia ligava para ele quando o filho ameaçava abandonar a escola dizendo "Por que eu tenho de fazer alguma coisa? Meu pai não tem de fazer nada. Minha mãe o sustenta. Por que ela não pode me sustentar?". Como viram que ele realmente tinha potencial, resolveram que o melhor era ele começar o doutorado em matemática embora não tivesse nem diploma de ensino médio, nem de graduação. Quando terminou o doutorado, foi convidado para ser professor. O futuro parecia promissor.

Infelizmente anos depois, a doença do John filho também se agravou e ele ficou improdutivo. Ele estava internado numa clínica quando os pais ligaram avisando que John Nash (o pai) tinha ganho o prêmio Nobel. O filho desligou pensando que era uma brincadeira. Anos após ter melhorado de suas crises, e olhando o filho, Nash admite que não foi um bom exemplo.

Após o prêmio, Nash se aproximou de seu 1° filho, e viajaram juntos para uma das apresentações dele. Houve intrigas por pequenas coisas (Nash não deixar que o filho comesse sobremesa) e coisas mais sérias (Nash insinuar que o 1° filho poderia ajudar a cuidar do 2° filho esquizofrêmico, e numa hora chegar a dizer que faria bem para o 2° John um irmão menos inteligente para cuidá-lo), apesar dos altos e baixos, o filho ficou orgulhoso do pai na apresentação, e o pai disse que tinha sido uma boa viagem.

Juventude e bissexualismo 

Outro aspecto que o filme não abordou foi a sexualidade de Nash, que na adolescência foi caçoado como "Nash-mo", por causa de alguns sinais homossexuais que apresentou. O começo do livro relata algumas dessas aproximações com homens. Inclusive, Nash foi demitido de uma firma que fazia parte da segurança militar americana por ter caído numa armadilha para atrair homossexuais. Naquela época da Guerra fria e do macarthismo, se pensava que funcionários homossexuais eram perigosos de se ter em quadros pois poderiam ser seduzidos (um pensamento bastante idiota...).

O curioso é que um dos homens que marcaram Nash a ponto de aparecer em seus delírios esquizofrêmicos foi Jack Bricker, mas ele aparecia como uma ameaça, um ser perigoso que sabia de segredos que poderia aniquilar John. Outras figuras que Nash temia em seus delírios eram o Napoleão, como figura que pode mudar a história da humanidade, Satanás, etc

Delírios

Certa vez quando estava internado numa clínica, John recebeu a visita de um amigo que perguntou como John pode ter se entregado a delírios, a coisas imaginárias e irreais, sendo ele um matemático que deveria se concentrar apenas em coisas racionais. John respondeu que o motivo era que para ele aqueles delírios eram tão reais quanto problemas matemáticos.

Na universidade de Princeton circularam lendas de que Nash teve colapso nervoso quando estava lidando com um problema matemático extremamente difícil (de fato ele estava lidando com numéros primos e a hipótese de Riemann). Não foram só isso, John, por ter vivido a época da Guerra Fria, era estimulado a pensar em conspirações, no final da juventude temeu ser convocado pelo exército (e tal medo prejudicou-o), sua demissão (na verdade uma perseguição) também o abalou, e fora que aos chegar aos 30 estava frustrado por não ter conseguido ter tanto sucesso quanto queria (ele almejava a medalha Fields, o maior prêmio da matemática).

Ao ler sobre seus delírios, é interessante como os delírios parecem misturados com problemas e questões a resolver. Há pessoas que para entender o outro conseguem se colocar no lugar do outro. A minha impressão é que Nash conseguia se colocar no lugar de um problema (algo que soa muito doido, eu sei), e assim conseguia ter insights geniais, mas também o fazia se perder em seus delírios (principalmente quando ficava confiante demais e parava de tomar comprimidos). Por exemplo, ele relata que certa vez se imaginou como um tabuleiro de go, e que quem estava jogando o jogo eram seus filhos, mas que no movimento das peças, e no rumo do jogo, estava sendo jogado um jogo de 2° ordem entre ele e os judeus (para explicar como seria isso, imagino que jogos de 2° ordem se referem por exemplo a casos como personagens de Lost disputando um jogo, como o jogo de 1° ordem, e o de 2° ordem, envolve Jacob e o Inimigo).

Os bastidores do prêmio Nobel

Há uma surpeendente história dos bastidores no prêmio Nobel do ano em que Nash foi agraciado, confiram no livro.

Após o prêmio, o livro e o filme

O livro termina dizendo que Nash e Alicia ficaram unidos, que casamento é o relacionamento mais misterioso entre seres humanos, e que eles eram um casal no final das contas. Anos após o livro e filme, chegaram a se casar novamente mesmo.

Nash visitou vários locais para falar do equilíbrio de Nash, sua contribuição à economia que lhe deu Nobel. Curiosamente, embora Nash tenha sido relatado no livro como uma pessoa com senso de superioridade, principalmente na juventude, os relatos por exemplo da sua visita à USP foram de encontrar uma pessoa extremamente simples. Achei interessante que ele foi visto resolvendo alguns problemas matemáticos e que isso teria sido orientação psiquiátrica para manter a mente ocupada. Há um relato legal sobre Nash (e sua visita à USP) e sua teoria dos jogos no Apêndice para mentes curisosas.

A última contribuição à economia provavelmente foi uma sugestão para uma dinheiro ideal, que achei bem interessante e contribui para meus estudos econômicos. 

Mas é interessante frisar que embora a maioria das pessoas só conheça Nash pela teoria dos jogos e prêmio Nobel, os próprios matemáticos dão mais valor às contribuições de Nash para matemática, como o problema da imersão.

Antes da premiação, havia a curiosa situação: economistas pensavam se Nash não era matemático demais para gahar um prêmio de economia, enquanto os matemáticos achavam que a controbuição à economia de Nash era das menores contribuições de Nash.


sexta-feira, 17 de abril de 2015

LER-QI virou MRT, mas para onde a esquerda está indo?

A novidade dentro da esquerda é que a LER-QI refunda-se como MRT. A principal motivação seria a nova conjuntura atual marcada principalmetne pela pós-crise de 2008, jornadas de junho, e onda de mobilizações de 2014.

Aproveito essa novidade para refletir sobre a esquerda de modo geral, então esse não é um artigo sobre o MRT, mas que apenas usa comentários dessa nova organização, quase como desculpa, para escrever sobre a conjuntura.

Fracasso do PSTU/PSOL?

Uma das primeiras coisas que me chamou no texto do lançamento do MRT foi o seguinte trecho, que explica a necessidade da atuação deles:

"... impotência da esquerda existente, que, apesar de muitos anos atuando em sindicatos (como o PSTU) e no parlamento (como o PSOL), fracassou em constituir para milhões de trabalhadores e jovens uma alternativa revolucionária ao PT e ao reformismo."

Quando PSTU foi mencionado, me veio à mente isso:


É um texto do PSTU (que já postei num post anterior) dizendo que o MST deveria romper com CDES pois metade daquele conselho era formado por empresários. O rompimento seria necessário para o povo perceber que a conciliação de classes não é possível, e os lados são esquerda ou direita.

Daí que 12 anos depois, em 2015 está na boca do povo que conciliação não existe, é ser esquerda ou direita, se vê um acirramento de posições.

E se o acirramento era necessário, o PSTU não fracassou, estamos vivendo tempos em que a polarização está tão grande que mesmo que o PT venha com uma proposta capitalista ou reformista, a direita rejeita dizendo que se vem do PT é coisa da esquerda, coisa de comunista, e que todo ato do PT é "bolivariano" sendo impossível a conciliação.

A posição do MNN

Para o MNN é tão séria a necessidade de mostrar ao povo que o PT é uma alternativa errada que estava indo ao ato do 15 de março (aquele que a direita marcou!!!) e fez uma chamada convidando o PSOL e PSTU a fazerem o mesmo (!!!)

"A 'construção da greve geral' é sempre um objetivo a ser alcançado, sobretudo nos momentos de crise burguesa. A melhor forma de construí-la na conjuntura atual, nos parece, é atuar numa frente única de todos os lutadores contra a corrupção e a carestia de vida, no movimento de massas que está colocado. Assim podem ser desatadas contradições ainda maiores, fazer estourar greves e abrir o processo que efetivamente constrói a greve geral. Ou seja: a construção da greve geral passa pela intervenção direta nas contradições que estão colocadas, em unidade contra o governo."

Quanto ao PSOL, o MNN reclamou que o PSOL acabou deixando para os militantes livres para participar do 13 de março de quisessem:

"(...) PSOL afirmou: “O lugar do povo brasileiro não é nem reforçando as forças conservadoras, nem tampouco apoiando o governo atual e suas medidas”. Entretanto, abriu espaço para um apoio indireto ao PT: “queremos deixar claro para o povo trabalhador brasileiro que o partido não endossará e nem participará de atos cujo eixo seja apenas de defesa do atual governo”. (...) A redação abriu espaço para a defesa do dia 13, o que também transpareceu na seguinte frase: “Consideramos legítimo o sentimento de muitos que julgam ser esta uma estratégia [ir no dia 13] para impedir o crescimento de movimentações conservadoras”. A militância do PSOL acabou sendo, na prática, liberada para escolher o que fazer."
Aliás, segundo o PCO, o MNN nem chegou a ir, o MNN estaria chamando o PSOL/PSTU justamente para não apanharem sozinhos (leia "Além do 'nem...nem', a esquerda que queria ter ido ao ato da direita").
 O PCO esculacha o piscionamento do MNN, com razão (e olha que eu elogiar o PCO é coisa rara, afinal PCO é quem chega a fazer marcha do 1° de maio sozinhos para ficar longe do PT, PSTU, PSOL, etc. Como se os únicos lúcidos fossem o PCO! Então eles apoiarem firmemente o 13 de março convocada pelo PT/CUT foi uma surpresa!).

Durante a ascenção do PT, e principalmente quando o PT se elegeu, quem estava à esquerda do PT alertava para os perigos do caminho petista, que conciliar ricos e pobres tinha um limite, etc. Se produziu muito texto atacando o PT, denunciando a proximidade do PT com o status quo, e muitas vezes se xingou o PT de direita mesmo.

Mas daí ficar tão ingessada nessa posição anti-PT a ponto de confundir tudo e apoiar o ato da direita como o MNN fez é o cúmulo do tragicômico.

Aliás nesses tempos tão confusos, em que na economia por exemplo o PT realmente fica numa gangorra, ora para direita, ora para esquerda (exemplo dessa indefinição é a política econômica com vários pontos que tucanos aprovariam), alguns podem achar que o caminho mais fácil para não ficar confuso é adotar um posicionamento radical. Sim, há menos riscos de ficar confuso, mas é bom refletir se isso não decorre justamente pela simplicidade das ideias! Por exemplo, se você for um pessimista, você estará sempre certo, aconteça o que acontecer, você nunca estará completamente errado. Um pessimista de esquerda, mesmo que o país viva avanços, poderá dizer que avanços não são revolução né?

E aliás, hoje em dia, tem casos que nem sendo radical se previne de ficar confuso:
(quadrinho do blog da Madô )

O custo-benefício

Acho necessário ponderar o custo-benefício: o povo se polarizar é bom? O MNN disse que com a queda do PT, o povo não será mais enganado por quem se diz de esquerda mas age como direita, e assim ficaríamos mais próximos da revolução socialista. Quer dizer: para eles a polarização só traz benefício. Tá na cara a ingenuidade desse pensamento.

E for para irmos por aí, o PSTU não fracassou como MRT coloca, hoje em dia as pessoas nem lembram que existiu o CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social) que tinha metade empresários e metade trabalhadores, de forma que a polarização chegou, como a maioria dos partidos de esquerda queriam, e do ponto de vista do MNN, o PSTU após conseguir que o povo nem lembre do conciliador CDES, deveria apoiar o Fora Dilma que aí a vitória seria certa!

Capacidade de mobilizar

Embora os dias 13 e 15 de março tenham dividido opiniões (felizmente me parece que entre 12 e 15 de abril havia menos dúvidas), há uma data que não divide tanto: junho de 2013. Mas qual  a diferença da "primavera brasileira" para 13 e 15 de março? A resposta é que em 2013 não havia posicionamento claro nem para direita nem para esquerda.

Mas ela expõe um problema da esquerda: a capacidade de mobilizar, de agregar gente para si. É nesses momentos que fica muito exposto a distância do ideal povo revolucionário e a realidade do povo precisar estar sabendo o que está fazendo, a distância do ideal do povo se conscientizar a partir das contradições do sistema e a conscientização que demanda esforço militante para ser disseminado.

Por que MNN dizia como se fosse tão fácil na queda da Dilma vir a revolução? Porque para eles, a coisa se procede muito fácil. Sendo irônico, o processo de conscientização automática do povo se daria tão facilmente que o povo além de ir para esquerda, conseguiria tecer críticas ao PSTU, PSOL, PCO, etc e passariam a buscar e apoiar o MNN que a maioria (em termos de território nacional) nunca ouviu falar. (como disse no post anterior nas cidades do interior do país as pessoas mal ouviram falar do PSTU!).

Sugestão

Repito minha sugestão para as esquerdas: levar em consideração essas dificuldades de mobilização para tornar mais flexíveis por exemplo os modos de organizações da capital chamar os do interior. Por exemplo, a CUT das capitais consegue chamar sindicatos filiados à CUT do interior, mas aí como organizações que não são ligadas à CUT chamariam pessoas do interior? Vai demorar muito até que PSOL ou PSTU cheguem a mais localidades do interior. De forma que se houver formas de comunicação mais flexíveis, o interior pode acompanhar melhor os debates multi-partidários das capitais (a meu ver, isso pode até ser bom para que certas organizações da capital se desfaçam da arrogância que reproduz a dominação das capitais sobre os interioranos).

Pode parecer que PT/CUT estariam abrindo mão de seu domínio ao aceitar essas flexibilidades (PSOL, PSTU, talvez até o MRT poderem chamar organizações do interior), mas acho que petistas devem ponderar que nesses tempos confusos, vale a pena pensar no custo-benefício: é necessário que em momentos críticos a esquerda consiga debater facilmente em maior abrangência de território possível, e se PT mostra deficiências e limites, pode ser vantajoso abrir mão de apenas Cutistas se comunicarem com a rede CUT para fazer algo mais abrangente. Inclusive, aqui no interior um sindicato filiado à Força ficou com raiva do apoio da Força à terceirização e tapou o logo da Força. Ou seja, já estão aparecendo questões que pedem uma mobilização para além das filiações tradicionais, pois senão demora muito para um sindicato desfiliar-se da Força para se filiar à CUT, ou desfiliar-se da CUT para ir para Conlutas...

Voltando ao Custo-Benefício, provocação: e se CDES voltasse?

Vimos que polarizar por polarizar pode não ser vantajoso. Expûs que a esquerda precisa pensar em capacidades e milites de mobilização.

De forma que tive outra ideia provocadora: Em tempos de enfraquecimento do PT no Congresso (forte bancada do Boi, Bala e Bíblia), e dentro dessa dificuldade de se fazer qualquer coisa sem ser acusado de "comunismo", não seria interessante que o CDES voltasse, para que pelo menos volte a correlação de forças meio a meio? (pois em muitos momentos tenho a impressão que a correlação tá muito mais para empresários...)

A meu ver foi acertada a Dilma propor a regularização dos conselhos populares para o povo participar mais da política. A reação raivosa do Congresso contra a ideia, e  modo rápido como mandaram para a gaveta mostra que na atual conjuntura, o poder é dos congressistas, na maioria, sem interesse em representar, e muito menos dar poder ao povo.

Mas o CDES já existia , portanto o Congresso não pode negar, pelo menos não da mesma forma como fizeram com a proposta dos conselhos populares.

Isso não seria um retrocesso? Não seria um retrocesso o MST voltar a se sentar no CDES? ORa, sei não, do modo como andam as coisas, nesse clima anti-comunista, talvez seja um avanço. É claro que isso traz de novo a discussão que o PSTU fez em 2003, mas daí pergunto novamente se os resultados estão saindo como se queria.

Conclusão

Desde há muito tempo me coloco à esquerda do PT, e julgo que mesmo que mesmo quando apoio certas políticas do PT (ou defendo-o contra a direita), o fato de ser mais à esquerda me permite apontar as coisas de um modo que questiono para onde o PT tá indo, o que se aplica também à própria esquerda, como o presente artigo (é claro que nesse artigo, não que eu esteja à esquerda do MRT, nesse caso estou à direita do MRT mas continuo à esquerda do PT e sinto-me firme nessa posição, quer dizer, tão firme quanto possível nessa conjuntura confusa).

Levantei com propostas provocadoras, a questão do custo-benefício. Então é isso: a minha conclusão é que mais importante que ficar firme numa posição, é saber para onde se está indo.
 

terça-feira, 24 de março de 2015

Minha contribuição ao debate (re: Cosntruir um bate-papo sobre a situação política)

Minha contribuição ao debate (re: Cosntruir um bate-papo sobre a situação política)

Escrevo de Chapecó-SC,  interior do país. Recentemente, para meu desgosto,  Chapecó ficou um pouco famosa pelas cenas de uma manifestação de direita invadir e arrancar a bandeiras vermelhas (do MST e PCdoB) de um apartamento de 2 meninas, e por causa de uma manifestação pró-intervençao militar (onde aparece um cara que pintou sua careca de verde e amarelo), ainda que muita gente não associe essas imagens à cidade, só lembram que aconteceu em algum lugar.

De qualquer forma, os informes é que aqui teve marcha do 15 de março, que deve ter tido apoio entre outros, dos jornais como Voz do Oeste, e por outro lado, não teve uma marcha de 13 de março, pois os membros do sindicato dos servidores daqui iam no dia para a capital Florianópolis, para somar força de vários sindicatos cutistas do estado inteiro. Aliás, sobre essa história de que foram vistas cenas de pessoas ganhando pão com mortadela e 35 reais, acho que tem de ser investigado se não era para as pessoas que vieram de outras cidades, pois se pessoas se deslocam de outros municípios para participar, 35 reais é algo simbólico, que não cobre as despesas, não é uma coisa de chamar qualquer um por aí para participar do protesto.

Aqui, como em muitas localidades que não são metrópoles, se ouve falar pouco em PSTU, PSOL, PCO, etc. De forma que PT/CUT é considerado de esquerda, sendo que aqui em Chapecó foi assassinado o vereador Marcelino Chiarelli (PT), mas que ficou como caso de suicídio, e infelizmente continua oficialmente como caso de suicídio. Depois teve um cara do PCdoB que teve todos os dedos cortados, parece que ele tava envolvido com sindicato de carnes,  embora felizmente parece que este se recuperou, inclusive recuperando os dedos.

Em locais mais interior ainda, não só as opções partidárias são ainda menores, como parece que tem o risco deles se fundirem: em cidades daquelas bem pequenas, falta candidato a vereador, prefeito, etc e parece que acabam fazendo uma conversa amigável entre os partidários para que pelo menos haja candidatos suficientes para preencher esses cargos políticos.

Olha, confesso que meu olhar para algumas questões mudou pelo fato de ter me mudado para o interior, em termos políticos, reparei como o PT apesar de tudo, tem o mérito de penetrar território brasileiro adentro, em sindicatos, cooperativas, igrejas (PJ -Pastoral da Juventude tem bandeira vermelha e vi fazendo marcha com bandeiras do MST e PT. Aliás achei meio engraçado que às vezes aparece bandeira do PCdoB, mas quando aparecem, elas estão novinhas, pouco gastas, como se tivessem sido pouco usados).

Por outro lado, não entendo como o PSD (partido do Kassab) consegue tanta penetração no interior, um partido novo, que como comentei anos atrás, foi oficializado por ter conseguido o número mínimo de assinaturas, embora nunca tenha visto barraquinhas pedindo assinaturas, como eu vi quando o PSOL tava nascendo. Naquela época ficava pensando se PSD colheu assinaturas de locais como associação de empresários ou de ruralistas, e pelo tanto de PSD que tem aqui e redondezas, fico pensando que há articulações que fogem à minha compreensão. PSD aqui é mais forte que PSDB.

PT x PSD: a polarização é forte, tão forte que como disse, houve assassinato e atentado (e, ora, todo mundo daqui sabe que quem mandou matar foi gente anti-petista, ou seja, o PSD). Bem, aliás, outra coisa elogiável no PT (pelo menos visto daqui) é que é PT luta com eles, e PCdoB, enquanto que PSD faz umas coligações gigantescas anti-vermelho que quando ganham é ruim, pois têm de distribuir cargos entre muitos partidos dentro do governo. Se não me engano, aqui na região, PMDB ficou com PSD/PSDB, ou seja, esses em-cima-do-muro do PMDB, embora nacionalmente fiquem com PT, regionalmente ficam com os coronéis.

Daí que há paradoxo quando se compara com o cenário nacional. Tanto na prefeitura daqui quanto no Estado, a briga eleitoral foi PT x PSD, em que PT perde, e logo após o PT perder, o vencedor do PSD (Raimundo Colombo) chama votos na Dilma. PElo clima anti-PT divido que alguém do PSD votou na Dilma.

Realidade do interior é distorcida?
Sabe, ao ver esse cenário, sendo eu vindo de São Paulo, no começo tinha a impressão de que aqui é um simulacro, e que as verdadeiras lutas estavam nas metrópoles, com PSTU, PSOL, etc. Mas agora eu pondero que não é bem isso, ambos os cenários são verdadeiros, se não vi ninguém do PSOL aqui,  é porque PSOL arrecadou abaixo-assinado de forma diferente do PSD. Fico me lembrando que uma vez a gente tava no CACS da Puc-sp e um cara próximo da LER-QI dizia todo orgulhoso que LER-QI tava no sindicato da USP, quando  comentamos de uma forte mobilização de uma universidade, acho que de Roraima, ele disse: "Roraima? lá nem tem gente, o importante é a USP", é claro que achamos criticamos muito aquela fala, e por vezes fico pensando que estou num daqueles locais, que ele diria "não tem gente". LER-QI dizia que quando chegasse a revolução, eles estariam numa fábrica matriz ocupada e eles ligariam para as filiais dizendo "Somos da Matriz, chamem um operário", e  quando o operário atendesse diriam "Pode ocupar a fábrica aí!".

Atualmente acho que isso não só uma coisa de cima para baixo, como também fico imaginando a resposta do operário, "como, quem é você?", "eu sou da LER-QI, eu sou da classe operária, como você...", "LER-QI, o que é isso?"

Considerações sobre as marchas de março (adorei essa expressão do Hugo!)
Fiquei refletindo sobre isso de que PSOL se posicionou nem a uma marcha nem a outra. Fiquei surpreso com o PCO se posicionando em defesa da marcha do dia 13. Embora, o que mais me chamou a atenção foi o MNN (Movimento Negação da Negação) ter ficado do lado da marcha do dia 15, dizendo que é necessário ousar, e que caindo a Dilma se cria um ambiente em que trabalhadores não serão mais enganados e irão para a esquerda.

Quanto à isso  fico pensando (satiricamente) "ah, claro, caindo a Dilma o povo vai perceber que até agora estavam enganados, e vão também deixar de comer carne, de andar de carro, viraremos uma nação de vegetarianos permacultores, afinal não vai ter nada enganando os trabalhadores "

Também fico me lembrando do Plano da LER-QI de comandar da matriz as ocupações de trabalhadores... Enfim, acho que nas metrópoles, a esquerda já formou uma cultura, e dessa cultura emergem umas ideias (como da LER-QI e do MNN) que fazem todo o sentido dentro daquele caldo cultural, mas não fazem nenhum sentido levando em conta o país como um todo (lembrando que no interior nem sabem da existência deles).

Esses anos longe do lar (chamo de lar, a cultura de esquerda da metrópole São Paulo, da onde me afastei e é como se aqui tivesse encontrado só casa e não lar), me faz reparar que aqui em Chapecó estamos mal: teve marcha do dia 15, teve marcha militarista no dia 26/2 (os espertinhos fizeram no mesmo dia/horário da marcha pela água contra Alckmin em SP), mas não houve marcha do  dia 13, e muito menos teve algo mais de esquerda fora  do dia 13, de modo que contabilizo 2 x 0 para direita.

2 x 0 para direita, pois o PT/CUT direcionou suas forças para ter peso nas capitais... Tava pensando, será que a alternativa seria mobilizações de esquerda serem supra-partidárias, de nas metrópoles o PSOL/PSTU chamarem e os sindicatos de diversos locais do país atenderem ao chamado, como se estivessem sendo chamadas pela CUT? Não me parece mal, já que a polarização CUT x Conlutas é algo que faz sentido só nas metrópoles. Aliás, como várias outras discussões, eu considero que só fazem sentido dentro do caldo cultura de esquerda das metrópoles, em que propostas irreais têm força no grito, dizendo que começam pequenos, mas conquistasm todo o país e tal... 

Enfim, o que deixo como sugestão é isso: a de haver algum tipo de conversa nas metrópoles, de forma que pelo bem dos movimentos de esquerda, haja formas, acordos, que permitam por exemplo o PSOL/PSTU chamar sindicatos do interior, como se fosse um chamado da CUT. (não tô querendo excluir a LER-QI, MNN, mas como é que estes vão chamar se no interior nem se sabe da existência deles? Como é que a chamada deles vai funcionar se quando os sindicatos do interior chegarem, o papo vai ser de destruir a CUT?)

Bem, e se acharem que é só delírio meu, que estou com uma visão da realidade distorcida por estar afastado do centros de discussão (as metrópolis), que o sinal da minha decadência é o fato de que se tivesse marcha dia 13 aqui iria sem hesitar (para ficar 2x1), ao invés de me encucar sobre o significado de participar do dia 13 (ou do dia 15, como fez MNN), que estou na moleza de escolhas muito fáceis, não tem problema, venham para o interior! Acho que aqui tá precisando mesmo!

OBS1: por aqui o pessoal ficou sabendo que em São Paulo, no dia 15, prenderam umas pessoas que queriam causar violência. Só que aqui o pessoal não sabe que nas metrópoles existe o extremismo de direita, como os Carecas do Subúrbio (da mesma forma que nem sabem que existe o extrmismo de esquerda), temo que aqui alguns estejam confundindo achando que os que foram presos eram petistas querendo atrapalhar a marcha.

OBS2: entre as confusões que acontecem aqui, quando teve a versão regional da Marcha dos Médicos, por aqui fizeram um chamado light e generalista por melhorias gerais da saúde, e por isso até uma médica cubana (!!) acabou participando, embora não do Mais Médicos. Talvez ela depois tenha se arrependido ao constatar que as diversas associações médicas juntaram fotos das marchas de várias cidades e colocaram como uma marcha contra a Dilma e o programa Mais Médicos, com enfoque no ataque aos médicos de Cuba.

sábado, 10 de janeiro de 2015

a tragédia de Charlie Hebdo

(De coisas que escrevi no Facebook me colocando como quadrinista)
Se cartunistas morreram é como se colegas meus tivessem sido mortos, e é gesto bonito que muitos tenham feito cartuns em resposta ao fato. Contudo, minha opinião sincera é que não gostei da maioria do que foi desenhado, principalmente daqueles que colocaram pessoas com traços muçulmanos de um lado e artistas do outro, ou armas de um lado e lápis do outro. A bronca é principalmente em relação aos primeiros, pois acabei de saber que locais e símbolos religiosos muçulmanos foram depredados, e essa é uma reação irracional e que tem uma direção política, a dos xenofóbicos. "Ora, mas eu só fiz um cartum, não é essa a reação que quis estimular", espero não ouvir isso de cartunistas, e muito menos com a cara de que não estão levando a si mesmos (e seus trabalhos) a sério. (Até porque embora cartunistas e quadrinistas achem que é muita pretensão achar que arte muda o mundo, a arte muda o mundo sim, piada não é só piada, e etc, bem, mas deixemos esse debate de dentro da profissão para outra hora.)

Cartum é uma ideia, mas atenção: ideia simplifica e óbvia são diferentes. Nesse sentido, parabenizo o Latuff pelo cartum dos terroristas metralhando o jornal e os tiros atravessam e atingem uma mesquita. é simples, mas faz refletir. (uma coisa ruim de trabalhar com cartuns é que sempre vai aparecer alguém que vai dizer arrogantemente que já tinha pensado o que você desenhou, e que expressou por escrito, como se fazer por escrito por si só fosse um meio mais nobre, mais adulto! Ora, mas é mais fácil digitar do que desenhar!)


Bem, peço aos cartunistas que fiquem alertas, É um momento perigoso, setores políticos oportunistas estão se aproveitando para falar de suas ideias, tal como a Marine Le Pen, figura da extrema-direita francesa que fala em pena de morte.


Cartunistas retratam a realidade de uma maneira simplificada, mas têm de tomar cuidado para que isso não alimente a noção do que é o "óbvio" para os xenofóbicos.
Vendo a conjuntura (reações políticas e sociais), aparentemente a realidade é complexa, o realidade complexa não é um bom material para os cartunistas trabalharem em cima, pois o óbvio lhe escapa, por isso talvez seja prudente também ter a paciência e ver no que vai dar.


Notas (facebook):

1- Não deve estar sendo nada fácil para Marjane Satrapi, autora de Persépolis (HQ que virou Fime), iraniana que estudou na Universidade Islâmica Azad, atualmente vive em PARIS. Não duvido que ao invés de darem pesares pela morte de colegas da mesma profissão, até agridam ela!
2 - Eu não trabalharia na Charlie, ou se eu trabalhasse seria apenas para ganhar uns trocos, que realmente não curto nem acho justificável argumentos tipo "ah, os islâmicos eram zoados, mas os católicos e todos os outros também".
3- Tipo, se fosse os extintos Pasquim ou Paquim21, ainda daria mais orgulho, Pasquim principalmente, por causa da história (Glauber Rocha, Henfil, etc), um pouco menos Pasquim21 (Jaguar e Ziraldo em Pasquim21 faziam umas piadas que em quase nada diferiam daquelas da grande mídia). Em suma, Pasquim > Pasquim21 > Charlie
4- Opa, não que eu esteja posar de artista que escolhe onde publicar (pois só consegui publicar em 1 lugar, a Mad), mas como disse publicaria na Charlie apenas por uns trocos, não por concordar com a linha editorial.
5- Isso de "Somos todos Charlie", alguns dizem que é por causa das vítimas, outros complementam que é porque Charlie era de esquerda (desconhecia a publicação, então não posso confirmar), mas de qualquer forma, nunca concordei com essas campanhas "somos todos" nem "apoio incondicional"
6- Por exemplo, acho que o movimento feminista acertou quando não fez uma campanha "somos todas Geisi Arruda", se tivesse feito, estariam apoiando a Geisi em tudo, dando apoio incondicional quando ela foi para A Fazenda, etc. Ficaria muito esquisito para o movimento.


 Links:
(imagem acima  do The Gardian)
 Joe Sacco também se posicionou e questiona os limites da sátira em Opera Mundi


Ótima análise em Descurvo.

EXTRA:
Tava pensando a voltar a fazer quadrinhos em 2015, mas não imaginava que seria "empurrado" a voltar (senti quase obrigação de me posicionar).