Aqui vamos resgatar a ordem correta dos fatos quanto às manifestações pedindo impeachment da Dilma. No final faço minhas considerações sobre os desafios da conjuntura. (inicialmente havia motivo de fazer piada, mas...)
Primeiramente aconteceu um ato que reuniu 30 pessoas:
Isso foi na 2°feira, dia 27/10/14, no dia seguinte às eleições. O número reduzido virou piada.
Muitas pessoas da esquerda, contagiadas pelo ânimo do resultado das eleições, estava achando isso engraçado, como um dos fatos pitorescos como o vídeo de
uma representante da elite tendo chilique e dizendo que estava indo para Orlando ou a
festa precipitada de Aécio (que veio à tona no dia 28).
Tinha gente que inclusive achava a cobertura da mídia injusta por focar naquele reduzido protesto:
Não consegui encontrar, mas foi criado até um Tumblr nos mesmos moldes de
Mais cheio que Marcha da Família:
Mas 6 dias depois a coisa era preocupante
Para falar da marcha pelo impeachement do dia 1 de novembro de 2014 (6 dias após as eleições) temos de resgatar fatos que ficaram obscurecidos, como que
inicialmente o ato no MASP não era contra a Dilma e sim contra Alckimin!
Vocês podem conferir no site SpressoSP "
Revolta da água já tem data marcada para começar: Sábado (1), no Masp" publicado no dia 28/10.
Depois o local mudou:
Porque a mudança de data?O
comunicado da Ação Antifascista Brasil explica: (Abaixo o texto completo, mas você pode pular e ir ao resumo)
Perto do sábado vemos o quão suja é a direita
em nosso país, como denunciamos antes aqui na página, a galera do Juntos
criou um ato para cobrar respostas do governador Alckmin a respeito da
crise no abastecimento, esse tipo de mobilização é
de extrema importância pois muitas cidades no estado e bairros da
capital estão sofrendo com o racionamento enquanto percebemos que a
classe média e alta não é afetada por uma política que deveria valer
para todos. Porém com a derrota nas urnas para o PT, a direita paulista
entrou em demência coletiva, e ao perceber que iria ter um protesto em
repúdio as políticas do governador que a própria direita elegeu marcaram
um ato de cunho separatista/golpista. Tentando silenciar um desejo das
massas, figuras como Paulo Batista o charlatão da política liberal,
Telhada o oportunista do polícia 24 horas, Danilo Gentili o garotinho
piadista da classe reacionária, Bolsonaro (sim aquele mesmo que dispensa
comentários) entre outros, promoveram um protesto bem no dia e local
que o ato "Alckmin cadê a água?", como essas figuras tem dinheiro e
investimento para publicar anúncios no facebook tentaram usar do seu
marketing como forma de afirmar que tinham marcado seu ato antes e
classificar o protesto pela questão da água como uma marcha petista. Ao
perceber essa manobra da direita nós do coletivo Ação Antifascista
mobilizamos todos os ativistas a ficarem de olhos abertos e apoiar um
protesto que já tinha sido criado bem antes da megalomania do Paulo
Batista contaminar a mente dos grupos reacionários. Percebendo o alcance
da nossa publicação a direita começou a inventar calúnias a respeito de
nossa página e coletivo, começaram a afirmar que iríamos para agredir
quando mobilizamos nossos ativistas para DEFENDER! Sim defender as
pessoas que poderiam ser hostilizadas no Masp, todos aqui sabem que
esses grupos tem ativistas Nacionalistas, Integralistas, Carecas do
Brasil, Xenofóbicos, White Powers e tantos outros militantes que sempre
utilizaram da violência para intimidar todos aqueles que são contrários
a suas ideias elitistas. Paulo Batista o charlatão, tenta utilizar do
sofismo para se fazer de vítima, classifica sua marcha como algo
anti-governo, algo revolucionário, porém fica evidente o elitismo e
opressão que seus militantes pregam contra nordestinos, comunistas,
homossexuais, anarquistas e outras minorias perseguidas dentro de nossa
sociedade. Infelizmente a galera do Juntos recuou e mudou o local da
manifestação mesmo tendo o direito de protagonismo no Masp por ter
criado o ato primeiro. Temos nossas discordâncias nessa questão porém
respeitamos, afinal quem está organizando são eles e não nós. A Ação
Antifascista apenas apoiou pois viu a opressão direitista em cima dos
manifestantes que tinham uma questão séria como luta. Nossa página foi
denunciada a polícia, Paulo Batista utilizou de seus contatos políticos
para tentar acabar com a Ação Antifascista Brasil, ele tem ao seu lado
pessoas de dentro da própria polícia que compartilha de seus pensamentos
burgueses. Quero deixar claro que isso não nos intimida, sempre
estivemos nas ruas combatendo de forma prática os piores militantes da
extrema direita, não será um liberal de terno e gravata que vai nos
silenciar através de deturpações e calúnias. Fizeram do ato pelo
impeachment uma manifestação de força e unidade da direita em nosso
país. Todos aqueles que são contrários a essa movimentação de origem
golpista correm o risco de agressão e intimidação. Pedimos toda união e
apoio dos militantes da esquerda e Antifascistas para que esse episódio
sirva como um alerta! Um alerta que eles estão dispostos a manipular e
silenciar todos que não estiverem em seu modelo de sociedade
progressista e meritocrata. Não temos medo, se for necessário a ação
direta como forma de defesa dos nossos direitos humanos que não são
dados, utilizaremos os meios de combate necessários para a defesa da
população. Peço aos Antifascistas que evitem o Masp no Sábado, chegou em
nosso poder uma informação de dentro da organização do ato dos reaças
que grupos de extrema direita estarão mobilizados nas estações de metrô e
nas redondezas da Paulista para coagir e forjar objetos ilícitos em
militantes comunistas, anarquistas, punks, skinheads e Antifas. Que o
recuo do coletivo Justos e a desunião da esquerda fique de lição! Se não
estivermos unidos eles vão passar por cima de nós.
Em resumo:
- esquerda marcou ato no MASP
- direita ia usar o ato no MASP para protesto contra Dilma, fascistas participariam para bater na esquerda
- Antifascistas se mobilizaram para defender a esquerda
- organizadores resolveram evitar confusão e transferir o local para Largo da Batata
- direita realiza o ato no MASP e ocupa a avenida Paulista
(ato no MASP 1/11 - 2.500 pessoas - segundo
Estadão)
(ato no Largo do Batata 1/11 - 500 pessoas - segundo
Folha)
Então a direita se usurpou do ato no MASP!
Pois é, e embora as pessoas estejam bem informadas, há algum risco de pessoas que estavam planejando ir ao ato chamado pela esquerda quanto à falta d'água terem acabado no ato da direita contra Dilma, e o que é pior, pela intervenção militar! (Cabe recordar que apesar de atualmente o pessoal estar muito conectado, não quer dizer que todos tenham celulares com internet)
Só que aí entra outro detalhe,
nem todos que eram de direita e estavam no ato no MASP queriam a intervenção militar!
Tanto
Folha quanto
Estadão falaram que no meio da passeata houve uma ameaça de racha entre a parte que era apenas contra a Dilma e outra que queria intervenção militar. O racha não se concretizou pois chegaram ao acordo que "todos querem o bem do Brasil" (fala do Paulo Martins, vide link Folha).
O PSDB, segundo estão dizendo por aí, cometeu um erro de procedimentos de livros e filmes de magia: convocou uma entidade mais forte do que pode controlar. Daí que estão soltando notas de que não apóiam intervenção militar e que respeitam o resultado democrático das urnas. (
num caso curioso, o senador do PSDB diz que infiltrados pediram intervenção militar, infiltrados do próprio PT?!?!?!)
Anteontem (3/11) um
tucano pediu que apoiadores de impeachment deixem o PSDB e foi chamado de "petralha"!
Acima a primeira metade da mensagem, o restante diz:
"Tudo bem. Acontece que, no período das eleições presidenciais, essa
tendência se articula no seio do PSDB, trazendo para nosso partido suas
causas. É normal existirem as alianças eleitorais, e para tal existe o
segundo turno. O problema surge quando os militantes da direita exigem
que nós, os sociais democratas, encampemos sua ideologia, o que seria um
absurdo.
A intolerância mostrada em minha página do facebook
reflete essa incompreensão. Criticam minha coerência, decepcionam-se com
os meus valores imaginando que eu deveria assumir os deles. Pior,
alguns tolamente me acusam de ser “petista infiltrado”. Dá até um pouco
de dó.
Ora, nós, do PSDB, nascemos inspirados na socialdemocracia
europeia, com viés da esquerda. Nossa origem reside no MDB autêntico,
que foi decisivo na derrubada da ditadura militar. Nós fomos decisivos
na Constituinte de 1988. Fomos nós, com FHC à frente, que criamos as
bases socioeconômicas do Brasil atual, inclusive as políticas de
transferência de renda e as cotas.
Na complexidade do mundo
contemporâneo anda difícil rotular os partidos, e as pessoas, como de
“direita” ou de “esquerda”, categorias válidas no século passado, mas
ultrapassadas hoje em dia. De qualquer forma, quem concordar com as
teses dessa turma aguerrida que vê o comunismo chegando, é contra os
benefícios sociais, sonha com a ordem militar, por favor, deixem o PSDB.
Vocês é que estão no lugar errado, não eu!"
Infelizmente é realidade que tem sim os que querem intervenção militar, Bolsonaro, citado acima inclusive estava com arma (!!) durante a manifestação, o que
apesar dele dizer que não, é sim algo
contra a lei.
Fiquei o porquê da arma, e me lembrei do comunicado Antifascista: se ameaçava ocorrer agressões dos fascistas, talvez ele tivesse ido armado para isso, talvez ele estava informado pelos grupos fascistas citados no comunicado Antifa.
E ficamos sabendo que eles tinham até contatado a Casa Branca (e foram frustrados)!
O
Viomundo, entre outros sites, noticiou que brasileiros tentaram pedir à Casa Branca que imtervissem para tirar Dilma do poder. Escreveram aos americanos dizendo que Brasil está trilhando caminhos bolivarianistas e comunistas, mas passaram vergonha pois receberam como resposta que o governo americano felicitou Dilma pela sua vitória, que “o Brasil é um importante parceiro para os Estados Unidos e estamos
empenhados em continuar a trabalhar com a presidente Dilma Rousseff a
fim de fortalecer as nossas relações bilaterais” e que os abaixo-assinados do site são destinados à cidadãos americanos, não brasileiros!
Conclusões:
Note que todas essas coisas aconteceram poucos dias depois das eleições, e se inicialmente era possível tirar sarro por terem reunido apenas 30 pessoas, é preocupante que tenham conseguido reunir 2.500 pessoas dias depois.
É de se observar que entre essas 2.500 pessoas talvez algumas confundiram-se pelo fato da direita ter se apropriado do ato que inicialmente era contra Alckimin e a falta d'água.
E também é importante notar o racha interno: nem todos querem intervenção militar. Talvez esse seja uma bandeira levantada pelos fascistas (aqueles que queriam bater na esquerda) ou simpatizantes (envolvidos em maior ou menor grau com os fascistas, podemos desconfiar do porte de arma do Bolsonaro, por exemplo, mas também é de se imaginar que muitos defendem essas ideias sem estarem articuladas com esses movimentos).
Como fica o PSDB? Será que vai conseguir retomar sua identidade social-democrata? Ou essa histeria anti-petista sairá de controle e vai mudar até seus ideiais iniciais?
Nas redes estou vendo pessoas excluindo os contatos que votaram no PSDB, nessa polarização, estão identificando tudo de ruim que aparece nos últimos tempos. De fato houve fatos inacreditavelmente lamentáveis como
estupro por discordância política (!!). Estou vendo muitos compatilhamentos dizendo por exemplo que quem defende intervenção militar é a favor de estupros, tortura, e todos os crimes cometidos durante a ditadura. Vejo nisso problema, primeiro porque muitos são contra PT mas não a favor dos militares, e entre os que defendem militares, nem todos querem torturas, e dentre os que se dizema favor inclusive disso, muitos não têm noção do significado isso.
Diante disso, acho meio inapropriado coisas como compatilhar fotos reais de tortura e falar como a direita tivesse noção daquilo, e ainda misturar defensores dos militares com PSDB.
Por que não misturar tudo? Condenar todos eles de uma vez? A resposta é que eles não são mais apenas 30 como dias atrás. Tal como na imagem que escolhi do Tumblr Mais Cheio que Marcha da Família, se são poucos faz sentido condenar todos eles para que ninguém mais seja incentivado a seguir o exemplo. Só que quando são numerosos fica mais complicado fazer essa generalização, pode o tiro sair pela culatra e ao chamar todos de fascistas, incentivar até os que não são se tornarem.
É claro que o período eleitoral que acabou de acabar estimula radicalizações, estimula o tucano a acusar petista de comunista e este responder à provocação de que é mesmo, e o tucano repplicar que então vai se aliar aos militares pois qualquer coisa é melhor que Cuba, enfim, vi esse tipo de coisa, de discussões que vão ficando cada vez mais longe das linhas ideológicas originais de cada lado.
Certa vez uma pessoa me relatou que em 1989 era universitário e viu a polarização PT x Collor (sendo que Collor era visto como símbolo do capitalismo, apesar dele ter feito a maior intervenção contra a propriedade da história brasileira ao congelar as poupanças). Ele tinha achado uma pena a derrota de Lula, mas ponderou depois que o clima estava perigoso, e que uma vitória do Lula naquela conjuntura (entre elas Queda do Muro de Berlin) poderia levar à uma guerra civil. Dizem que essa última eleição foi a mais polarizada desde 1989, mas dessa vez PT venceu (apesar de que de lá para cá tenha ficado menos crítico ao capitalismo). O que será que nos aguarda?
Atualização:
Não sei se vai esfriar ou não após passar mais tempo após as eleições, mas a polarização entre esquerda e direita continua. E isso porque nem começou o novo mandato da Dilma!
No dia 13 de novembro houve manifestação da esquerda pela constituinte, pelos direitos sociais, pelas reformas, contra o golpismo da direita.
Vide
CartaCapital,
RedeBrasilAtual,
UOL. Se falou em 10mil a 20 mil manifestantes.
Um hotel localizado num bairro da elite se cercou de viaturas e em resposta os manifestantes dançaram forró em frente ao hotel.
Dois dias depois, no dia 15 de novembro, feriado que caiu num sábado (o que teoricamente chamaria mais gente para passeata), a direita fez uma marcha pelo impeachment da Dilma, com 2,5mil a 6 mil pessoas (informações da
UOL) e colocaram pautas como "liberdade" que segundo eles não existe no Brasil (vide
Folha).
Note que a cor é verde-amarelo, em contraste com o vermelho do protesto anterior:
E apesar de ser dia de Proclamação da República, havia gente defendendo intervenção militar
O que causou uma divisão no movimento, e o lado mais visível disso foi a momentânea desistência do Lobão em participar. Não deixe de ler
O dia em que o Lobão teve de negar um boato criado pelos próprios seguidores!