(Na lista de emails foi postado o "Lulismo fora do eixo" - http://www.advivo.com.br/node/1465495 de Arbex. Essa é minha resposta. Escrito e divulgado originalmente no dia 11/8/13).
Para reforçar: "Lulismo fora do eixo" foi escrito 2 anos atrás, na época da Marcha da Liberdade.
Portanto é
meio ultrapassada ao criticar o protesto pacifista, ligando (a meu ver,
de forma pouco ligada) pacifismo ao "Lulinha paz e amor". A meu ver
Arbex chega à errônea conclusão de que FdE é lulista e a juventude
"atual" junto com o FdE é casada com as políticas pouco revolucionárias
do Lula.
Daí Arbex defende a esquerda tradicional acusando a
juventude atual de pacifista. (e defende a esquerda tradicional também
como alternativa ao PT.)
E por que é ultrapassada? Porque as marchas atuais além da face pacifista tem a face do "vandalismo".
Se o pacifismo era atribuído ao FdE, o vandalismo é atribuído ao Black Bloc.
Quem escreveu contra o Black Bloc foi PSTU, que disse que o vandalismo é
contra-revolucionário por incentivar a repressão policial e também que o
vandalismo mostra o quanto o povo é desorganizado. LER-QI, e agora o
PCO estão escrevendo contra a posição do PSTU.
PCO diz:
"Um
argumento particularmente cretino – uma palavra que Marx usava
saborosamente contra a esquerda pequeno-burguesa da sua época – é o de
que o suposto vandalismo é obra de pequenas minorias, dando a entender
que seria apoiado e legítimo se fosse de uma maioria. Nesse caso, não
seria melhor propor a expansão do vandalismo ao invés de condená-lo?
(...) se a ação dos 'vândalos' é desorganizada, deve ser organizada.
Se a ação dos 'vândalos' é sem objetividade, deve ser fornecido um objetivo claro a ela.
Se a ação dos 'vândalos' é minoritária é preciso torná-la geral.
E não combatê-la."
(Eu achei a posição do PCO acima bastante ingênua, eles frequentemente
escrevem como fosse simplesmente uma questão da ideologia do PCO
contaminar mais gente que teríamos a revolução. Aproveitando: detesto o
PCO, só citei por estar mais à mão)
Nenhum dos 3 (PSTU, LER-QI,
PCO) diz que vai se juntar ao Black Bloc. Os 3 se colocam como esquerda
tradicional, os 3 querem ser alternativa ao PT.
(aproveitando
também: nada contra a esquerda tradicional, Arbex tá mais para PSOL.
Tudo bem, pois entre os partidos citados, só tive problema com PCO. Dos
outros tenho amigos inseridos neles. E que bom vê-los pensando em
alternativas por dentro dos estudos tradicionais da esquerda, até porque
eu também sou marxista!)
Enfim, tanto o pacifismo do FdE
quanto o vandalismo do Black Bloc são criticados pensando-se em
alternativas ao PT. Por outro lado, é provável que nem o pacifismo nem o
vandalismo se sintam representados nem pelo FdE, nem pelo Black Bloc...
embora eu não esteja defendendo o apartidarismo, acho que não quer
dizer que criticando os aspectos deles os partidos angariarão militantes
na mesma proporção.
Na verdade acho que a anarquia (eu não
disse anarquismo) das mobilizações vai continuar, embora também seja
louvável que paralelamente à isso esteja sendo pensada a expressão
partidária e eleitoral disso. Digo "paralelamente" pois pensar em
arregimentar toda essa agitação em uma expressão político-partidária é
besteira e inviável de antemão (o que tem seu lado bom também de manter a
diferença entre partido e povo).
Quanto ao FdE, disse que eles
têm de ser entendidos no contexto da arte e seus membros e ex-membros
entendidos enquanto artistas. Mas eu, enquanto artista não me juntaria
ao FdE. Na verdade quando saiu o artigo "Lulismo Fora do Eixo" na Caros
Amigos, o que ouvia os artistas comentarem é que Arbex criticou de forma
muito genérica alguns pontos e não criticou onde interessa ser
criticado. Por exemplo apontar contradição entre novas mídias e luta de
classes é a parte genérica, fora de foco (Arbex diz que é erro pensar
que a mobilização nasceu da internet, nasceu da miséria e da velha luta
de classes). Ou ligar pós-fordismo, contracultura (incluindo os hippies,
como ele frisa) ao petismo é outra coisa no mínimo fora de foco,
passível até de ser considerada errônea. Já um ponto que os artistas
sentiram falta e seria interessante de ser criticado é a crescente
vontade das empresas aglutinarem aspectos da contracultura (e até os de esquerda acham divertidos algumas peças publicitárias e compartilham no facebook elogiando) e os grupos como FdE meio
que servirem de assessores ou intermediários entre publicidade, arte e
ativismo, daí que tinha aquela proposta do FdE da Marcha da Liberdade
ter patrocínio não-escancarado da Coca-cola. (Só para dar uma
alfinetada, e todos verem como essa discussão existe e é atual: quantos,
mesmo da esquerda tradicional, não usaram a hashtag #vempararua? E "Vem para rua" vem de que anúncio publicitário mesmo?...)
Eu acho que algumas coisas devem ser incorporadas e não combatidas.
Assim como os anarquistas/anti-partidários aceitaram a ajuda dos
advogados de partidos quando foram presos nas manifestações, não vejo
porque os partidários devem rejeitar a Midia Ninja. Se compartilhar
significa compactuar com trabalho escravo? Bem, acho que os que se
sentem escravizados não continuam lá e pronto (e nisso que vejo
semelhanças com a CAros Amigos). Se Mídia Ninja gosta de estampar o
carimbo deles, bem o jeito é aceitar que tem muita gente ávida para
informar, indiquem um novo canal onde possam fazê-lo (já que tá rolando
campanhas para não compartilhar coisas da Caros Amigos, Anonymous e
Midia Ninja, qual a alternativa? Já vou avisando que o povo não vai
aceitar o "usem o canal do nosso partido".).
OBS: quanto à
canais de mídia, acho válido citar que no facebook, Vivacqua comentou:
"... continuo chamando a atenção para o CMI - Centro de Midia
Independente, que na virada do milenio foram quem realmente criaram esse
campo livre de expressão na comunicação justa. Midia Ninja, não faz
mais do que deveria fazer, e que bom que está fazendo direito." E
Honorato comentou: "Também me parece importante fazer referência ao CMI,
na medida em que tendo história e memória a coisa fica mais forte, mas a
comparação tem alimentado muita disputa pelo pioneirismo do "campo
livre", o que pra mim entra numa sintonia equivocada. De resto só queria
comentar que a "quebra de narrativas" me parece, sim, um dado concreto e
recente, do que os Ninjas têm sido protagonistas (e nada disso é uma
"decorrência lógica" do CMI). Apenas acho discutível ou contraditório,
ainda me atendo à entrevista do Torturra, a sugestão de uma espécie de
prerrogativa da realidade, associada ao lugar que os Ninjas têm
ocupado."
FdE pode ser visto como um rival, embora eles digam
que é estreiteza de visão serem vistos como partidos, acho que podem ser
encarados como partido rival, afinal não são simplesmente a expressão
do campo livre de expressão (eles dizem ser, mas notem que todo partido
diz que seus informes são também exrepssão do campo livre de expressão).
Negam que há coação entre seus membros e que se os membros se submetem
ao sobretrabalho, é porque aceitaram essas condições por uma causa maior
(todo partido diz o mesmo sobre seus militantes). Quanto ao dinheiro,
eles dizem que as verbas públicas realmente foram para os projetos e que
os patrocínios e doações recebidas não adulteral seus ideias (os
partidos dizem o mesmo). Favor não confundam financiamento de governos
com editais, os editais de cultura tem regras criteriosas, e o simples
fato de projetos culturais receberem verbas de editais não configura
falcatrua nenhuma. Senão vocês descem ao nível da Veja (para a Veja todo
gasto que do governo do PT é falcatrua, sem distinção entre o que foi
lícito e ilícito!).
Por fim, tenho algumas sugestões de links:
A FAVOR:
Sergio Amadeu - https://www.facebook.com/sergioamadeu/posts/10153094845610274
"1)O fora do eixo nunca foi paradigma de ação política de esquerda.
Trata-se de um grupo de ação cultural que se tornou político, mas não
tem raízes na esquerda, mas nos movimentos de rede (...) 10) Precisamos
organizar um campo de esquerda. Gostaria que os diversos movimentos de
rede pudessem integrá-lo. Quero unidade de ação contra o capital.
Trabalho pela liberdade na internet com a esquerda do PDT, com o PT, com
o PSOL, com o MST, com autonomistas, anarquistas, com o PCdoB e tantos
outras organizações.
Rafael Vilela - https://www.facebook.com/piravilela/posts/684090298272627 - que diz que foi repórter da Midia Ninja enviado ao Egito, ou seja correu risco de vida pelo FdE.
Aderbal Ashogum Moreira - https://www.facebook.com/photo.php?fbid=642001229143524&set=a.195723437104641.50322.100000009586758&type=1
- "(...) me chamou a atenção aquela organização que se parecia com uma
comunidade de terreiro, todos trabalhavam em tudo (...) .Fora do Eixo
somos todos que estão a margem desta merda toda que esta ai posta."
CONTRA:
Shannon Garland - http://lagringasudaca.com/post/57814963701/olhar-de-alguem-de-fora-no-fora-do-eixo
- entre outras declarações interesantes, "(...) sim, eu já vi, tem
pessoas mais altas no processo vigilando as mais novas—indivíduos e
coletivos. Eu vi, como Laís falou, claramente o desejo das pessoas
poderem subir na rede,"
Isabelle Gusmão -https://www.facebook.com/speakenglishI/posts/4609374290775
- "Nós exijíamos o pagamento dos cachês, e quando tocamos no assunto
eles disseram que se penssavamos assim, estavamos nos tornando uma casa
de shows comum, que não tinha nenhuma responsabilidade com a demanda
cultural da cidadade. Foi aí que tive um lapso de raiva, tristeza, e dor
muita dor. Porque vi, como pessoas tão supostamente revestidas com um
discurso cheio de frases de efeito pode te fazer mal, pessoas sem
índole"
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