obs:

O título desse blog é infeliz, mas só reparei depois. "Anti-país dos petralhas" dá impressão que sou contra os "petralhas" (como Reinaldo Azevedo se refere ao PT). Não, eu quis dizer que sou contra o Reinaldo e seu livro "O país dos petralhas".
É tão infeliz quanto uma pessoa de direita ser contra Marx e botar "Anti-O capital" e as pessoas acharem que a pessoa é anti-capitalista...
Bem, temos de conviver com os nossos erros né?

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

de que lado Célio está?

(escrito e divulgado originamente no dia 14/8/13)
"mas afinal de que lado Célio está? Ele diz que não está do lado do foro do Eixo, mas mete pau no Arbex e pontua críticas à esquerda tradicional"

Bom, o lado que defendo é o do artista, simplesmente. O que mais temo é qua os ataques ao FdE ganhem contornos anti-artistas. Por isso que estou aproveitando um tópico de email: Abaixo da minha mensagem,o artista Junior Pimenta comenta que a questão do FdE é a ponta do iceberg da questão sobre a remuneração decente. Daí que proponho o teste: abaixo da assinatura digital de Pimenta, tem links, um dos links leva à reticências, e aí se vê que esse projeto tem apoio do governo do Ceará. O teste é: o que você achou? Se a reação for "Uai, ele critica o FdE mas também recebe verba do governo...", aí mostra que você não tá entendendo direito os artistas. O problema não são artistas, nem os coletivos de artistas e nem redes, o problema é o modelo de rede adotado pelo FdE. no caso, se Pimenta fosse filiado ao FdE, apreceria o logo do FdE e uma parte da verba do governo do Ceará estaria indo para o FdE.

Pensando na história da esquerda vejo os artistas como acadêmicos..., ou ainda como quilombolas. Explico: desde que começaram as manifestações, tem rolado disputas de espaços, e uma certa confusão sobre o que significar falar isso ou aquilo. Daí, que para se diferenciar dos nacionalistas, uma menina declarou: "brasileira coisa nenhuma, sou indígena, quilombola!". Historicamente essa fala é interessantíssima de ser analisada. Atualmente a esquerda se identifica com quilombolas, gays, etc, mas na década de 70 não era assim. Os comunistas diziam que as pautas das minorias atrapalhavam, pois interessava mais pensar na revolução geral, daí que a revista Lampião da Esquina(para público gay) não era bem vista nem pela direita, nem pela esquerda (essa história está na entrevista com João Silvério Trevisan). Quilombolas, então? A esquerda se dizia internacionalista, e portanto a pauta quilombola era pior que a nacionalista, específico dentro do específico, atrapalhava o internacionalismo e a reorganização geral da sociedade. Enfim, as minorias não eram bem defendas pela esquerda da época, daí que vemos hoje coisas como Fidel admitindo que perseguiu gays no passado.

Mas voltando mais no tempo, se vê que no começo a esquerda tinha problemas com a academia também. Marx estudou economia por fora da academia, pois as universidades eram controladas diretamente pelos governos e Marx nunca foi admitido como professor. Daí que em Marx/Engels é possível encontrar textos anti-academia. Demorou muito para o marxismo entrar na universidade, e havia um "muro" separando acadêmicos dos movimentos sociais. Daí que os primeiros contatos eram vistos com desconfiança por ambos os lados. "Por que os acadêmicos querem se aproximar do movimento? Será que não é para se aproveitar de nós? O que eles vão trazer de contribuição? Será que a contribuição deles não será apenas algo útil deles para eles mesmos, se exibierem entre eles?" Essas deviam ser algumas das perguntas. Vejamos: uma pessoa da academia pode se aproximar de sem-terra, por exemplo, e produzir uma tese, o movimento pode achar que embora o acadêmico diga que a tese em si é sua contribuição, a tese só serviu para o acadêmico ganhar prestígio entre os acadêmcios, e que nesse caso houve um "aproveitamento", o movmento foi usado como "trampolim". Hoje em dia a esquerda já tá tão acostumada com acadêmicos, que não vê problemas quando eles falam numa linguagem tão difícil que só é compreensível por seus pares, como se simplesmente se declarar um acadêmico de esquerda bastasse e fosse elogioso

Já os artistas, eu acho que não estão sendo ainda tão bem compreendidos. É mais fácil o artista ser acusado de se aproximar dos movimentos por interesses próprios do que os acadêmicos. "Mas para que serve essa arte?" é uma pergunta mais comum do que "Para que serve essa tese?" Aproveitando: menos comum ainda é perguntar ao jornalista: "para que serve essa reportagem?". Do ponto de vista de um sem-teto por exemplo, jornalistas, acadêmicos e artistas são pessoas que passaram um tempo vivendo junto - alguns até gerando prejuízos, como comer a própria comida do acampamento, outros fazendo pequenos trabalhos voluntários (e eu diria que os jornalistas são os que acabam comendo a comida, e os artistas os que fazem pequenos trabalhos voluntários, mas não vou generarizar) - e no final podem acabar sendo vistos como aqueles que subiram na carreira (jornalística, acadêmica, artística) se aproveitando dos outros, ganhando até verbas (como bolsas de estudo e editais).

Espero que a crítica ao FdE não ganhe contornos anti-artistas e que da mesma forma como incorporaram as minorias e os acadêmicos, no futuro não haja questionamentos do tipo "ah, mas os artistas se inseriram nos movimentos para se sustentarem de verbas de editais, é o ganha-pão deles, é a lógica capitalista" (lembrando que proporcionalmente poucos trabalhadores são acusados de ganharem o pão e assim alimentarem o capitalismo, a própria condição de trabalhador muitas vezes é endeusada ao invés de condenada. "ah, mas o operariado é nota 10, ele é quem gera valor, artista não", bem, mas a mesma crítica poderia ser feita aos acadêmicos!). Lendo os relatos tanto de quem saiu do FdE, quanto de quem permancece dentro, o que vejo são pessoas tentando ganhar a vida de alguma forma. E nesse meio, editais e patrocínios são rotina, e não é possível a esquerda querer que eles vivam de forma 100% doadores de si, como muitas vezes é utopicamente pregado mas é inviável. 

 OBS: Vai acontecer o 2° seminário "há machismo dentro da esquerda?", discutindo sobre reprodução de opressões, reparem que mulheres existem há muito tempo e esquerda idem, mas mesmo assim o seminário tem ares de discutir coisa inédita. Daí que não posso deixar de obervar um dos defeitos da esquerda: se hoje em dia, as minorias são acolhidas, incorporadas, e o mesmo aconteceu com os acadêmicos, o que não vemos são admissão de erros. Vemos pouco alguém dizer que errou, o que vemos são pessoas dizendo "outros erraram, mas eu tava certo, eu era dissedência na época". Talvez seja por isso que vemos toda hora surgirem grupos novos de esquerda: ao invés de erros, parece até aquela história do darwinismo de sobreviverem os que tavam certos desde o começo, e esse grupo é que evoluiu angariando mais adeptos... Daí que os que aceitam agora as minorias falam como se sempre tivesse sido assim na esquerda e penso que isso atrapalha justamente pensar em incorporar outros de fora, pensar em admitir erros. Arbex (coitado, tô metendo o pau de novo) por exemplo ao invés de pensar em incorporar novos elementos da contracultura, opõe contracultura x velha luta de classes. "Não sou brasileira, sou indígena, quilombola!" entonada para resgatar a velha opisição direita nacionalista x esquerda, mas como se desde sempre esquerda e quilombolas estivessem nessa luta contra a direita... é realmente um caso curioso! (e até sugeriria para um antropólogo de esquerda colocar como tema de estudo, que por sua vez poucos o criticarão pois o acadêmico será visto como um cara que estuda a esquerda o que por si só seria elogioso, ou como um simples cara que tá ganhando a vida honestamente)

 Enviadas: Sábado, 10 de Agosto de 2013 18:35
Assunto: Re:O Fora do Eixo é uma organização voltada a si própria - por Arthur Taguti



Flávia,

Essa questão do Fora do Eixo, é a ponta a iceberg, é algo que deve ser repensado... Existe um grande risco 
nesse processos de financiamento da cultura, onde na maioria das vezes, tem pessoas â frente, que não tem conhecimento,
nem interesse em cultura, e pensa apenas em números. E onde o dinheiro, vêm de isenção fiscal, na sua grande maioria.

O setor de marketing, pensa em quantidade... E acredito que não apenas as instituições privadas fazem isso ( com isenção
fiscal) como também o próprio governo em alguns casos. Vejo que é papel do governo apoiar principalmente iniciativas, que não
conseguem se inserir no campo mercadológico. Acredito num modelo, onde você possa atuar de maneira profissional onde todos 
os envolvidos sejam pagos.

A algum tempo que só participo de projetos ganhando pro-labore, ou quando ninguém está ganhando nada, e se eu estiver 
interessado também entro sem ganhar. Penso, que essa postura de cobrar respeito, tem que partir da gente também, das nossas 
posições enquanto artistas.

Abraços e vamos em contato...



Enviadas: Sábado, 10 de Agosto de 2013 12:59
Assunto: O Fora do Eixo é uma organização voltada a si própria - por Arthur Taguti

  Enviado por luisnassif, sex, 09/08/2013 - 21:00
Por ArthurTaguti
Olha, o que me impressionou na entrevista de Capilé/Torturra, bem como na réplica de integrantes do FdE a Beatriz Seigner, é o uso obsessivo da metalinguagem. Enquanto Beatriz parece uma amante da arte e aborda questões culturais em todo o seu texto, as respostas, em sua maioria, centraram-se no FdE em si: nós, nós, nós, nós, nós, nós.
Um trecho do já viral texto dela é bem revelador. Ela diz: "e o meu choque ao discutir com o Pablo Capilé foi ver que ele não tem paixão alguma pela produção cultural ou artística, que ele diz que ver filmes é “perda de tempo”, que livros, mesmo os clássicos, (que continuam sendo lidos e necessários há séculos), são “tecnologias ultrapassadas”, e que ele simplesmente não cultiva nada daquilo que ele quer representar. Nem ele nem os outros moradores das casas Fora do Eixo (já explico melhor sobre isso)".
Assim, não é por nada não. Mas como é que alguém que pensa que uma "bisoiada" no Wikipedia ou no primeiro link digitado no Google pode substituir escritores que desvelaram a alma humana, escreveram sobre temas universais como inveja, medo, cobiça, amor, ódio, culpa, como Machado de Assis, Shakespeare, Oscar Wilde, Dostoievski, e etc., pode se apresentar como um Mecenas da Cultura?
Como é que pode alguém se apresentar como Mecenas, se considera filme "perda de tempo"? Será que a sociedade digital tornará obsoleta as lentes analógicas de Akira Kurosawa, Federico Fellini, Charles Chaplin, Gláuber Rocha? Será que o apego ao "novo" o torna insensível a todas as emoções humanas que a arte desperta?
Como é que MinC e diversas Secretarias Estaduais e Municipais empregam milhões e milhões, para fomentar a cultura, em uma organização manejada por alguém que não reconhece a atemporalidade e universalidade da arte genuína (como os livros e os filmes clássicos)? Alguém que pensa que a linguagem vista em "Crime e Castigo" ou "Memórias Póstumas de Brás Cubas", ou até o culto a vida e ao amor em "Memórias de minhas putas tristes" pode se tornar obsoleta, como se fosse um gadget ultrapassado?
Por isto que chega-se a inevitável conclusão que o FdE é uma organização voltada a si própria. E não é ojerizando o novo não. Já disse muito aqui que sou fã do pessoal do MPL, que deve ter seus defeitos (como qualquer outro movimento social), mas tem um discurso político claro, uma estrutura organizacional que nenhum ex-integrante - até agora - contestou com tanta contundência a ponto de se tornal viral nas redes sociais.
Assim, vendo por este prisma, já não me espanto mais com o desrespeito aos artistas, que não são remunerados mesmo sendo o Coletivo muito competente em captar recursos públicos e privados, e aos próprios empregados, que se dedicam 24/7, sem carteira assinada, sem previdência social, sem FGTS, e ainda, segundo Laís Bellini, ficam sujeitos a todo tipo de assédio moral, lavagem cerebral e perseguição.
Isto porque o objetivo maior do FdE parece ser a promoção da organização e dos seus dirigentes. Aí entramos naquela discussão que os fins justificam os meios. Atua-se como camaleão, metade estrutura empresarial bem articulada para captar milionários incentivos, metade socialismo utópico (sem o socialismo) para explorar empregados, não pagar cachê a artistas e ganhar a opinião pública (inclusive com crowdfunding), sendo tudo moralmente permitido se for para a realização do objetivo maior, promover esta estrutura que eles crêem revolucionária.
Não é a toa o discurso messiânico e autoconglatulatório. Tanto que a resposta do Torturra é reveladora disto: "estou deprimido", "vocês não entendem o que fazemos", pedindo até uma tolerância ao calote, tudo em prol do sucesso deste modelo "novo".
Assim, com o poder público empregando recursos a quem não cultua livros nem filmes, a consequência é o que estamos vendo aí, a instrumentalização do discurso de promoção a cultura, levando a sua desvalorização, pois se torna meio, moeda de troca, para fins outros que não culturais.
Olha, eu gostava muito de assistir o Mídia Ninja, curti para caramba o baile que eles deram no Roda Viva, quando discutiram a velha mídia, mas, como dizem, nem tudo o que reluz é ouro, e infelizmente o único novo que continuo admirando é o MPL.

Nenhum comentário:

Postar um comentário