obs:

O título desse blog é infeliz, mas só reparei depois. "Anti-país dos petralhas" dá impressão que sou contra os "petralhas" (como Reinaldo Azevedo se refere ao PT). Não, eu quis dizer que sou contra o Reinaldo e seu livro "O país dos petralhas".
É tão infeliz quanto uma pessoa de direita ser contra Marx e botar "Anti-O capital" e as pessoas acharem que a pessoa é anti-capitalista...
Bem, temos de conviver com os nossos erros né?

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Discordando do Chico de Oliveira: neoliberalismo está morrendo

Este não é um texto sobre mídia, mas lá vai:

Assistir a Mezaros e outros intelectuais na Puc-sp ontem (24/8/9) me motivou a escrever um texto, coisa que há tempos não fazia.


Discordando do Chico de Oliveira: neoliberalismo está morrendo

Cada um tem seu jeito de analisar, e no meu caso, costumo exagerar o prognóstico de tendências que vejo (o que tem relação com quadrinhos onde há caricaturizaçã o e convivência com Ficção Científica).

E com meu método, não apenas lanço dúvidas sobre o neoliberalismo como também dou uma pincelada de dúvida até no capitalismo. Para essa análise me baseei nas "Formações Econômicas Pré-Capitalistas" , de Karl Marx.

Poi bem: tal como disse Chico de Oliveira, neoliberalismo é uma variação do liberalismo, que por sua vez é uma das doutrinas do capitalismo. Há diferença de graus, mas elas diziam que Estado na Economia atrapalha e que o capitalismo é baseado na livre iniciativa e suor dos empreendedores objetivando a produção de riquezas.

Mas com essa crise, foram os Estados que taparam com trilhões o buraco da economia, fez-se de tudo para preservar os privilégios dos maiores magnatas, a "livre iniciativa" perdeu bastante do seu sentido original de tanto que a economia é planejada para subsidiá-la (são tratadas praticamente como se fossem empresas estatais que garantem a infraestrutura das nações, como se fossem geradoras de energia tais como as hidrelétricas ou termoelétricas) e a produção de riquezas (ou sua própria existência, em forma de especulação) está sendo questionada.

Bem, estou certo que esses e outros pontos já foram levantados em outros textos, alguns dos quais indagando se haveria a volta do keynesianismo.

Chico de Oliveira leu esses textos e atesta - corretamente- que o keynesianismo não voltará. Já quanto ao neoliberalismo, a intepretação dele parece ser de que o neolberalismo não está morrendo pois quando estiver morrendo é porque estará nascendo uma alternativa socialista.

Acontece que nesse ponto eu discordo. Concordo que sob certos raciocínios filosóficos o única superação possível para o capitalismo neoliberal é uma saída libertária (não rotularei de "socialismo" em oposição ao "anarquismo" pois o livro de Mezaros sugere várias saídas de caráter descentralizador compatíveis com idéias anarquistas, e acho que essa observação deveria ser mais bem analisada por outros).

Porém, quando não é possível avançar, os poderosos simplesmente preferem dar um passo para trás. E com o passo para trás, não me refiro ao keynesianismo, é uma passada para trás maior ainda...

Aliás, muitos, incluindo Oliveira, disseram que só haveria 2 saídas, o socialismo ou barbárie. Mas eu não chamo o keynesianismo ou o neoliberalismo de barbárie, pois apesar de tudo, eles são muito bem articulados e coerentes com o que defendem (livre iniciativa, papel do Estado na economia, etc). A barbárie, excluindo o neoliberalismo, seria uma barbárie muito maior, incoerente, de valores bagunçados, a não ser um: "os fortes vencem os fracos."

Em uma palavra: vou apelidá-lo de neo-feudalismo!

E digo que esse retrocesso é possível. Marx disse em "Formações Econômicas Pré-Capitalistas" que à certa altura o sistema greco-romano começou a retroceder para o sistema de produção asiático.

Aqui uma aulinha: lembremos que do sistema greco-romano nasceram os filófosos, a república (com senadores), alguns ramos da ciência, etc. Já o sistema asiático era carregado de misticismo, como culto ao imperador-deus. Lembremos que até o final da 2° Guerra Japão ainda declarava oficialmente que seu imperador um deus.

Acontece que à certa altura Roma voltou a ter imperadores que eram deuses, mesmo com reviravoltas no campo religioso (de perseguição à adoção do cristianismo) . A tomada de decisões e cobrança de tributos passou a ser justificada como necessidade de agradar o imperador-deus, ainda que nunca fosse ser como igualzinho ao sistema asiático.

Dessa forma, retrocessos históricos existem. Um passo para trás, para ter os poderes dominantes à frente.

Sei que parece exagerado falar em volta ao feudalismo, mas vejamos bem:

No feudalismo existiam castelos e nobres, tais como em McBeth, de Skakespeare. Agora temos McDonald´s.

McBeth e McDonald´s, nada a ver? Vejamos:

- McBeth era um nobre, sua riqueza vinha simplesmente pelo título de nobreza.

- McDonald´s, na atual conjuntura, receberá ajuda se precisar simplesmente por ser McDonald´s, com seus títulos na bolsa de valores.

- Os títulos de nobreza eram concedidos num ritual meio religioso (resquícios dela ainda existem quando concedem títulos de Sir na Inglaterra), por que ajudar os nobres? Porque era uma questão de fé. Derrubaram a nobreza pois os capitalistas achavam essa justificativa irracional e defenderam um sistema menos religioso e baseado na ciência.

- Na crise atual, ajudam os magnatas e justificam apenas que é porque é necessário, porque eles são parte de um negócio muito maior que deve ser cultuado, o deus-mercado. Antes davam ao trabalho explicar a defesa dos valores da livre iniciativa, etc. Hoje dizem apenas que é necessário assim como se devia obedecer aos nobres pois a concessão de seus títulos teria tido a bênção divina. Não explicam mais os princípios do pensamento capitalista pois perdeu-se o sentido, virou a defesa de uma fé no capitalismo.

- A meu ver, isso soa tão paradoxal quanto os feudais que cometiam atrocidades nas masmorras em defesa da fé em Cristo. Ora, era obvio que torturar e matar iam contra os 10 mandamentos, mas à certa altura a defesa da fé afastou-se dos mandamentos, tal como agora a defesa do sistema afastou-se dos mandamentos do nascimentos do capitalismo.

- Quem nascia nobre era nobre até morrer. Atualmente, dizer que todos nascem iguais é um disparate até mesmo se contarmos apenas os que nascem como capitalistas (já que recebem ajuda os magnatas das Bolsas de Valores), sendo assim, o cúmulo do desrespeito à igualdade. Se amanhã acharem trabalhoso cruzar os dados de patrimômio para identificar os grandes magnatas e resolverem dar títulos de nobreza para facilitar o estabelecimento de privilégios, não fará muita diferença.

- Antes, diziam que o que os cientistas diziam não era possível pois ia contra a fé (tal como as idéias de Galilei), atualmente há os que dizem que o aquecimento global não existe por ir contra a economia! Não é misticismo?

Conclusão: A maioria dos que dizem "socialismo ou barbárie" (relembrando que é necessário prestar atenção no "socialismo" de Mezaros que propõe) se referem ao neoliberalismo como barbárie. Contudo os contornos que a crise vem tomando parecem indicar que não teremos nem a defesa dos princípios neoliberais nem a volta ao keynesianismo, e exagerando, nem a defesa dos valores sequer capitalistas. Parece ser uma barbárie inonimável, onde prevalecerá a lei do mais forte. Há um certo misticismo que não chega a ser como o sistema asiático, e difere do feudalismo pois não é concedido a indivíduos e sim a multinacionais. Apelido isso de neo-feudalismo.

Um comentário:

  1. vou colocar o que meu amigo Gavin tinha comentado quando o texto chegou a ele:


    "O seu texto é bem interessante. O retrocesso e barbárie de que fala Chico de Oliveira é também entendido como fascismo, e menos um todos contra todos sem lei. O fascismo histórico do séc. XX veio exatamente a salvar o capitalismo liberal moribundo da época e, através do estado totalitário, construiu as condições para o novo modelo capitalista - com a guerra como inevitável fator de mobilização nacional e organização da produção.

    Interessante sua leitura de volta à Idade Média, e acho que o fascismo inclui várias das coisas que vc anotou em seu programa ou prática: retorno imaginado ao tempo dos cavaleiros, misticismo de lideranças carismáticas ao estilo profético, ossificação das relações sociais.... enfim, umsalto em direção ao passado.

    abs

    Gavin"

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