obs:

O título desse blog é infeliz, mas só reparei depois. "Anti-país dos petralhas" dá impressão que sou contra os "petralhas" (como Reinaldo Azevedo se refere ao PT). Não, eu quis dizer que sou contra o Reinaldo e seu livro "O país dos petralhas".
É tão infeliz quanto uma pessoa de direita ser contra Marx e botar "Anti-O capital" e as pessoas acharem que a pessoa é anti-capitalista...
Bem, temos de conviver com os nossos erros né?

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Folha colocando palavras (sexo e drogas) na boca das pessoas


Abro o jornal de domingo (12/4/9) para checar a coluna do Ombudsman. Vamos ver... não, não falaram do caso da Marina Previato (SPORTV), estão falando da Dilma Roussef (PT), mas o problema é o mesmo: colocação indevida de palavras na boca das pessoas.
Vou explicar: na verdade essa é a 2° chance que dei para Folha, pois o Ombudsman devia ter falado da Marina no domingo passado (5/4/9). Não falou até agora, não vai falar mais. Então falo eu. Fui até besta de esperar que falassem nesse domingo do caso que ocorreu 12 dias atrás, mas foi bom pois o Ombudman falou que no caso da Dilma houve problema similar de apuração. (o link da Folha é restrito aos assinantes da UOL, então leiam este do vermelho.org)
Sexo, Drogas &; Marina: o problema é muito simples de entender. Mas como diria minha mãe, deve-se tomar cuidado com erros de casos pequenos pois pode-se cometê-los em casos grandes (o da Dilma envolve eleições de 2010).
No dia 30/3/9, Marina Previato ocupou mais de 1/4 da pág E2 (coluna da Monica Bergamo), com o título "Garota realidade" e tava lá: "Os atores ficarao confinados em uma casa, como se estivessem num reality show. Marina diz que usou drogas e fez sexo de verdade durante as filmagens". (O BlueBus copiou a notícia, e a verdade é que sites de conteúdos variados também espalharam dizendo "nossa, ela fez sexo diante das câmeras!")
Mas no dia seguinte, 31, com o título "Erro nosso", a mesma coluna escreve que Previato "nao usou drogas nem fez sexo diante das câmeras - como afirmou a coluna. Ela também não deu declaraçao alguma nesse sentido".
Confesso que li isso primeiro no BlueBus, pois na página do jornal tava num cantinho que eu teria passado batido. Confiram na imagem (marcado com retângulo vermelho): a correção de erro tem espaço ínfimo perto da notícia do dia anterior, em outras palavras, para os distraídos prevalesce a notícia anterior.
Pensei comigo: "Como assim? a notícia dá meia volta de 180° de repente?". No fim daquele dia mandei um e-mail para o Ombudsman:
"Gostaria de saber como de um dia para outro (do dia 30 para 31/3/9) as informações puderam ser totalmente desmentidas. Está explícito no texto do dia 30: 'Marina diz...' e no dia seguinte se desmente que ela tenha feito sexo e usado drogas. O episódio é tão estranho que não ficamos com a menor idéia de como as informações foram obtidas: afinal onde entraram o sexo e as drogas? A coluna ouviu a Marina ou outra pessoa? entre outras perguntas que acabam abalando a credibilidade do jornalismo.
No dia seguinte (1/4/9) já chegou parte da resposta:
"Obrigado pelas suas observações, que estou encaminhando aos jornalistas responsáveis pela seção para que lhe respondam diretamente. Este é um caso péssimo para o jornal, sem dúvida."
No dia 3/4/9 o Ombudsman me repassa o que a colunista respondeu:
"O leitor tem razão, é um erro tão grave que pode afetar a credibilidade de uma publicação. Por isso foi prontamente corrigido, de forma bastante clara, tanto na coluna quanto na seção 'Erramos' do jornal. A repórter conversou com a Marina Previato. Mas não sobre esse assunto, que ouviu depois de outras fontes que não tinham credibilidade suficiente para que a informação fosse publicada sem nova checagem com a Marina. E errou uma segunda vez ao creditar a declaração a ela. Agradeço a atenção."
Só então fui ver a tal seção de "Erramos" (pág A3, 31/3/9), que também passa batido para muitos. Não vou reclamar apenas do espaço pequeno (novamente marcado em retângulo vermelho), mas também do conteúdo que achei ridídulo ao não esclarecer como uma investigação jornalística dá 180° de guinada:
"As informações publicadas na nota 'Garota realidade' estavam erradas. Leia mais na coluna de Mônica Bergamo"
Aí esperei que naquele domingo (5/4/9) o caso constasse na Coluna do Ombudsman, mas não tava lá, nem na lista de tópicos onde o jornal foi mal. Assim, você que está lendo isso agora é quem está sabendo em primeira mão que a Folha pode cometer o erro de ouvir fontes não-confiáveis (e invejosas) que degrinem a imagem da pessoa e ainda por cima colocarem como se a própria pessoa tivesse dito aquilo!
Não é brincadeira não! Para o blog do João Villaverde o caso é vencedor do prêmio "Barrigada Jornalística". E olhem um dos comentários de lá:
"NUNCA O PEDIDO DE DESCULPAS É DO TAMANHO DA OFENSA. ONTEM VC TRATOU DO DIPLOMA DE JORNALISTA. O QUE SE FAZ COM UMA PESSOA QUE ESCREVEU TUDO QUE ELA ESCREVEU? QUEM SABE O TAMANHO DA OFENSA, É OFENDIDO. AO LER NA FOLHA TIVE A CERTEZA QUE A MARINA ERA UMA DESTAS MOÇAS QUE USAM SEXO PARA VENCER NA VIDA E PIOR DROGADA. NÃO VI A ERRATA. SE NÃO FOSSE PELO SEU BLOG CONTINUARIA ACHANDO QUE A ATRIZ NÃO ERA UMA ATRIZ, ERA UMA DROGADA QUALQUER."
Agora considerem o que isso causa na política e você tem o caso da Dilma, que foi o seguinte: Saiu na capa (com grande destaque) do dia 5/4/9 e a matéria ocupou as páginas A8 e A10. Antonio Roberto Espinosa - a fonte ouvida - se indignou com a manipulação das informações que ele deu, que tendiam a prejudicar a imagem de Dilma. Então escreveu uma carta, que pode ser conferida em diversos sites, como o do Nassif, da Revista Fórum, do Sindicato dos Jornalistas, etc.
Ele queria que a carta já saísse na edição seguinte (de 2°feira) e com chama da na capa, mas o jornal argumentou que a carta chegou às 21:58 e que a seção de cartas fecha às 20h. E pelo jeito pediram para resumir, de forma que saiu uma coisa menor na seção de cartas do dia 8 (4°feira) - O Ombudsman ponderou que com flexibilidade daria para ser mais rápido- e sem chamada de capa, como Espinosa queria.
Junto com a carta (na versão diminuída), foi publicada a resposta do jornal. Resumidamente: Espinosa salienta que Dilma não estava sabendo do plano de sequestrar Delfim Netto e que portanto colocar Dilma no meio era fazer uma anticampanha para prejudicá-la nas eleições de 2010. O Ombudsman reconhece que naquela capa, ao invés da foto da ficha criminal de Dilma, faria mais sentido a foto do Espinosa. A resposta do jornal: não foi afirmado que Dilma planejou o sequestro (é sutileza ou esperteza do jornalismo: tá escrito "Dilma" em letras grandes, mas tá "Grupo de Dilma" e não "Dilma")
Na carta (integral) de Espinosa, ele comenta que é normal os integrantes do grupo não saberem de todos os planos e cita que Carlos Marighela, comandante nacional da ALN, não ficou sabendo do seqüestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick. Na resposta da Folha, entra o X da questão: segundo a repórter Fernanda Odilla, durante a entrevista por telefone o Espinosa teria dito que Dilma era um dos cinco de um colegiado e num momento disse que "os cinco sabiam" do sequestro. Espinosa desafia a Folha a divulgar a entrevista. No jornal, internamente o Ombudsman também recomenda a divulgação. Mas a Folha responde ao Ombudsman que "Não faz sentido reproduzir novamente as declarações de Espinosa (...) Consideramos suficiente a publicação da carta do entrevistado e a nota da Redação". 
Então em algum momento das 3 horas de conversa por telefone teria sido confirmado que Dilma sabia. Espinosa nega. E não poderemos confirmar. Espinosa chama de "lamentável e preguiçoso vício da investigação" apurar coisas por telefone. O Ombudsman concorda que devido à importância, a entrevista deveria ter sido feita cara-a-cara.
Conclusão: Disseram que Marina da SPORTV fez isso e aquilo e depois "corrigiram", no caso de Espinosa também teriam colocado palavras na boca dele quanto à participação de Dilma no sequestro, porém dessa vez a Folha nega dizendo que existe esse trecho não-confirmável de "Dilma sabia". Mesmo que esse trecho da gravação exista, é melhor a Folha tomar mais cuidado no modo como ela investiga. 
Até agora tava intrigado porque um erro grande como o que fizeram com Marina não apareceu no Ombudsman, mas pensando bem, talvez a Folha esteja cometendo tantos erros de maior repercussão política que simplesmente o caso da Marina seja menor e tenha sido esquecido de colocar na lista de "onde foi mal" da semana.